Em outubro de 2003, Eric Steel leu um artigo que classificava a ponte Golden Gate como o local onde mais se cometem suicídios nos Estados Unidos. São, em média, 19 por ano. Diante deste fato, Steel teve a controversa idéia de fazer um documentário. Com duas câmeras apontadas para a ponte e posicionadas em terra firme, ele filmou enquanto havia luz do dia durante todo o ano de 2004.
O resultado é um filme impactante, que choca por tratar de um tema que ainda é tabu, mas também belo e livre de desnecessárias análises e discussões morais, religiosas ou de qualquer outra natureza. Reunindo depoimentos de familiares e amigos das vítimas e de testemunhas dos suicídios, A Ponte (The Bridge, 2006) é muito mais sobre vida do que morte. O que realmente interessa é entender os conflitos que levaram aquelas pessoas ao estado maior de desespero, onde a vida não vale mais a pena. O suicídio em si, é apenas o ponto final de uma existência miserável, pontuada por tristeza, loucura, solidão.
Durante o ano de 2004, 24 pessoas saltaram da Golden Gate para a morte. Steel filmou 6 desses suicídios e um milagroso salto, fracassado com ajuda de uma foca. As imagens dos suicídios em si não chocam tanto, à excessão do primeiro e do último, um salto esperado durante todo o documentário.
As cenas dos saltos misturam-se ainda com belíssimas imagens da ponte. Toda a beleza da baía de São Francisco e da Golden Gate, repleta de transeuntes que não percebem os suicidas camuflados entre eles até que seja tarde demais, está magistralmente retratada e acaba causando um contraste que incomoda bastante.
Apesar de amplamente criticado por ficar atrás das câmeras ao invés de tentar impedir os suicídios, Steel não fez um filme oportunista e sim uma espetacular obra prima, muito recomendada para quem tem interesse em entender o desespero e a coragem do ser humano.
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