domingo, 10 de fevereiro de 2008

Juno

Juno é o novo filme cult de baixo orçamento, atores meio desconhecidos e queridinho da crítica na corrida do Oscar. É impossível evitar a comparação com o incrível Pequena Miss Sunshine. Provavelmente também não tem muitas chances de levar a estatueta de melhor filme, mas a mera presença entre os indicados confirma o amadurecimento da Academia.

Escrito por Diablo Cody, uma stripper que contava suas experiências num blog, e dirigido por Jason Reitman (Obrigado por Fumar, 2006), Juno é o filme mais inteligente e interessante que vi este ano.

Para quem não sabe, o filme conta a história de Juno MacGuff (Ellen Page), uma garota de 16 anos que engravida de um colega de escola (Michael Cera) e resolve dar o filho para adoção. A sinopse é prato cheio para um dramalhão, mas o que vemos é uma comédia emocionante. Logo de cara, é impossível não se encantar com Ellen Page e seu jeito moleque. Ela carrega grande parte do filme sozinha e o faz de maneira impressionante. Apesar de Ellen roubar quase todas as cenas, o resto do elenco faz um ótimo trabalho, inclusive a linda Jennifer Garner, que estamos mais acostumados a ver em filmes de ação ou comédias românticas bobinhas.

É um tanto estranho e inesperado ver um tema complicado e cheio de tabus como gravidez na adolescência ser descomplicado de uma maneira tão simples. Ao descobrir que está grávida, Juno passa por todos os questionamentos e incertezas de uma criança que carrega outra, inclusive o aborto. Mas num filme positivo e feliz como Juno, essas coisas são deixadas de lado para a alegria geral de todos.

Apesar de ser o tema central, a gravidez não é o foco do filme. O que o torna realmente interessante é ver o crescimento forçado de uma menina que é obrigada a entrar no mundo adulto e como a mente de uma criança pode encontrar soluções simples para problemas complexos. Mesmo esperando um bebê, Juno sofre por um amor adolescente e dá um piti porque seu amado chamou outra menina para o baile da escola. Essa inocência vem aliada a uma consciência e responsabilidade até utópica. Desde o início Juno sabe bem que não tem condições de criar o bebê e procura por um casal "cool" para essa tarefa. É aí que ela encontra Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman). A vida do casal é outro foco belamente explorado no filme, mostrando que às vezes as coisas dão errado e nem sempre há vilões. A procura por vilões é inclusive um impulso inconsciente que acaba frustrado após esperarmos ansiosos a descoberta do mau caráter dos pais adotivos e no fim vermos que são apenas pessoas normais, com as mesmas imperfeições que todos nós podemos ter. Em Juno não há maldade, apenas realidade.

Outro ponto forte são os diálogos rápidos, inteligentes, afiados e engraçados. Ouvir as divagações de Juno é comédia certa, sem necessidade de apelo físico ou de situações tragicômicas. Ponto para Diablo Cody.

Além de tudo, a trilha sonora é belíssima e dá o clima indie do filme. Tem Velvet Undergrund, Sonic Youth (fazendo cover de Carpenters), Belle & Sebastian, Cat Power, The Moldy Peaches e várias canções folks de Kimya Dawson (ex-Moldy Peaches). Em Juno, a música não é mera trilha sonora, é um elemento importante na vida da protagonista e na sua relação com os outros. É impossível não terminar o filme com um sorriso no rosto ao ver os protagonistas levando Anyone Else But You, do Moldy Peaches.

Enfim, Juno é um filme sensacional que já vi 2 vezes essa semana, e indico para qualquer um. Vale a pena.

Vejam o trailer no YouTube.

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